No passado 19 de janeiro de 2024, na antecâmera do dia 20 de janeiro, que se celebra o Dia dos Heróis Nacionais, a Associação Caboverdeana de Lisboa (ACV) deu início às comemorações do centenário do nascimento de Amílcar Cabral com uma mesa-redonda nas suas instalações na Rua Duque de Palmela, nº 2, 8º andar dando espaço ao recital de poesia, à música e outras manifestações culturais e literárias. Com sala lotada, a ACV recebeu representantes de várias instituições e associações congéneres, nomeadamente, a Embaixada de Cabo Verde, Embaixada da República Democrática do Congo, CPLP, UCCLA, União de Estudantes Africanos de Lisboa, Prémio da Lusofonia, e a Associação CaboVerdeana da Amora-Seixal.
Os participantes da Mesa-Redonda – Hans-Peter Lonha Heilmair, José Luís Hopffer Almada e Tony Tcheka debruçaram-se sobre a vida, a obra e o pensamento de Amílcar Cabral. O recital de poesia e música, com poemas e letras de música de e sobre Amílcar Cabral teve a brilhante participação de Carla Correia, Charles Mourão, Tony Tcheka e José Luís Hopffer Almada, acompanhados à viola pelo excelente músico cabo-verdiano, Sr. Arlindo Barreto.
Foi interessante verificar a presença do convidado de honra da ACV nesta conferência, o Doutor Domingos Simões Pereira, Presidente do PAIGC (Guiné-Bissau) e Presidente da Assembleia Nacional Popular da República da Guiné-Bissau.
Amílcar Cabral é figura incontornável na história e na trajetória política, social e cultural da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. Neste âmbito, é legítimo afirmar que 2024 é o ano de todas as comemorações/celebrações sob forma de atividades recreativas alusivas ao seu nome e ideário político. Nascido a 12 de setembro de 1924 na localidade de Bafatá, Guiné-Bissau, Amílcar Cabral era filho de pais cabo-verdianos, Juvenal Lopes Cabral, professor, e de Iva Pinhel Évora.
Terminado o ensino primário em Santa Catarina, Ilha de S. Tiago, veio a concluir os estudos secundários no antigo Liceu Gil Eanes em S. Vicente, Mindelo, em 1943. Posteriormente, Amílcar Cabral teve uma curta experiência profissional na Imprensa Nacional, cidade da Praia, S. Tiago. De referir que em 1945 viajou para Portugal onde deu início à sua formação académica no Instituto Superior de Agronomia de Lisboa, tendo sido aluno promissor e carismático pela sua postura e assertividade ética e moral, entre outras qualidades de índole intelectual e cognitiva.
Empenha-se de forma destemida e apaixonada em variadíssimas atividades estudantis na clandestinidade dando mote à formalização de várias ações de luta e combate contra o colonialismo português, com o apoio e contributo de vários alunos, sobretudo os de origem africana. As ações/reuniões estratégicas eram realizadas na antiga Casa dos Estudantes do Império em Lisboa. Anos mais tarde, em 1956, com a colaboração do seu irmão Luís Cabral e outras figuras proeminentes na clandestinidade como Aristides Pereira, Elisée Turpin, Fernando Fortes, Henri Labéry, Júlio de Almeida, fundaram o PAI (Partido Africano para a Independência).
Em 1962 o projeto passa a ter nova designação – PAIGC – (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), sob o lema “Unidade e Luta”, tendo legitimado o início da luta armada, em janeiro de 1963.
NOTA: Na época, Amílcar Cabral deixou bem claro que a luta armada não era contra o povo português, mas sim contra o “jugo” do colonialismo/imperialismo português. Esta sensibilidade permitiu que, em 1970, acompanhado por Agostinho Neto e Marcelino dos Santos, fossem recebidos por sua Santidade, o Papa Paulo VI, em audiência privada. Hoje, cabe-nos a honra e o dever moral de continuar os desígnios de Amílcar Cabral na edificação da Paz e do Progresso em qualquer Pátria Imortal.