A língua caboverdiana é um crioulo de base lexical portuguesa e tem desempenhado um papel privilegiado na identidade do povo das ilhas e nas manifestações culturais, sobretudo no que diz respeito ao património oral e à comunicação oral quotidiana, mas o português tem sido desde sempre a língua privilegiada nas produções escritas e nas situações formais de comunicação. Poder-se-á até dizer que quando se pede ao caboverdiano para falar, o crioulo apresenta-se naturalmente como a língua preferida, mas quando se pede para escrever, há um recurso imediato ao português. Esta razão fez com que alguns daqueles que deram os primeiros passos na escrita do crioulo mostrassem preocupação em justificar a possibilidade dos leitores virem a apontar algum erro, mesmo não havendo na altura qualquer norma de escrita definida. Seguem-se dois exemplos dessa situação.
Em 1880, numa carta de um anónimo enviada a Adolfo Coelho, podemos ler o seguinte:
Talvêz algun cúsa, palabra, ou móde nhu crê, stâ êrrado.Cuza qu’en câ tâ dubída; pamóde pâ más criôlo qui nós di Cabo Berde nú sabê, sénpre nu ta ncontra dificuldadi ou enbaráço, quel’ora qui nú pêga na Péna pa nu scrêbê na nos lingua. Talvez alguma cousa, palavra ou como quiser, esteja errada. O que não duvido, porque por mais crioulo que nós de Cabo Verde saibamos, sempre encontramos dificuldade ou embaraço logo que pegamos na pena para escrevermos a nossa língua.
Em 1885, na sua obra bilingue “Apontamentos para a Gramática do Crioulo que se Fala na Ilha de Santiago de Cabo Verde”, A. de Paula Brito, apresenta a mesma preocupação em relação ao erro e escreve na “Dedicatória”:
Nhôs lê‑‘l ku tẽsã, i nhôs mẽdâ´‑’l ku rẽzã. Nhôs lẽbrâ´k’é promèru trabajhu d’ês kólidadi ki nu tẽ , sẽdu sertu ki pâ’m fazê´‑’l ĩ ka achâ´ ũ só iskritu kiriôl pâ sirbi´‑’m di moldi. Nhôs mẽdâ´ éru ki nhôs achâ´, nhôs limâ´ falta ki nhôs kõtrâ´, más nhôs mẽdâ´ i nhôs limâ´ ku jhustisa i rẽzã. Lede-os com atenção, e emendai-os com critério. Lembrai-vos que é o primeiro trabalho neste género que possuímos, sendo certo que para o levar a cabo nem um só escrito crioulo encontrei que me servisse de guia. Emendai os erros que encontrardes, limai as impurezas, mas emendai e limai com justiça e imparcialidade. (Brito, 1885. In Morais-Barbosa, 1967:331).
É no século XIX que se inicia a tradição de escrita espontânea em crioulo caboverdiano, mas as produções escritas nesta língua ganham força apenas no período pós‑independência.
O facto de não haver uma norma escrita e o próprio preconceito em relação à língua crioula foram razões que de alguma forma limitaram esta produção escrita aos mais audazes.
As primeiras experiências escritas eram de base etimológica, assentes na ortografia e no alfabeto português, que era o único código escrito dominado. O ponto de referência para escrever em crioulo caboverdiano era o português, a língua de alfabetização dos caboverdianos.
Em 1880, Francisco Adolfo Coelho, num capítulo dedicado ao “Crioulo da Ilha de Santiago – Arquipélago de Cabo Verde” integrado no seu trabalho intitulado Os Dialectos Românicos ou Neo-Latinos na África, Ásia e América, faz um estudo que tenta encontrar correspondência entre o Crioulo e o Português através da tradução de cartas e apresenta observações ao nível da fonética, da morfologia e da lexicografia do crioulo.[1]
Escrito em 1884 e publicado em 1886, a obra de Joaquim Vieira Botelho da Costa e Custódio José Duarte, “O Crioulo de Cabo Verde: Breves Estudos Sobre o Crioulo das Ilhas de Cabo Verde Oferecidos ao Dr. Hugo Schuchardt”, apresenta considerações relativas a alguns aspectos gramaticais, sobretudo fonéticos e morfológicos, e a tradução da “Parábola do Filho Pródigo” nas variantes dialectais de algumas ilhas.[2]
Em 1888 é publicado um trabalho que pode ser considerado pioneiro. É a primeira tentativa de gramática da língua caboverdiana, o seu autor é A. de Paula Brito e o seu título é “Apontamentos para a Gramática do Crioulo que se Fala na Ilha de Santiago de Cabo Verde” e foi publicado no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa.
A propósito deste trabalho, Adolfo Coelho refere que este “merece publicidade porque contém muitos dados novos e, sobretudo, porque tem por objecto o estudo especial do dialecto de Santiago, que o autor fala desde a infância” [3]. Este estudo, para além de aprofundar diversos aspetos gramaticais do crioulo falado em Santiago, propõe ainda um alfabeto de base fonética para a escrita da língua caboverdiana. Apresentando ideias bastante arrojadas para a sua época, esta é a primeira proposta de uniformização da escrita de que há notícia.
Este alfabeto proposto por A. de Paula Brito, anterior à fonologia como ciência (Veiga, 2002:44), é de base fonológica e procura representar o mesmo som pela mesma letra ou conjunto de letras e vice-versa. É constituído por vinte e uma letras e quatro dígrafos, a que o autor chama de
Létra sijélu i dobradu di alfabétu kiriôl Letras simples e dobradas do alfabeto crioulo A B CH D E F G JH J K L M NH N O P R RR S T U V X Z A. Paula de Brito, 1888: 335-404, in Morais-Barbosa, 1967
Na introdução a este trabalho, o autor justifica a razão da sua escolha expressando o seu
(…) desejo de simplificar a ortografia, tornando-a fonética sem empregar novos sinais, pondo-a ao alcance de todos, especialmente dos meus patrícios, que adoptando-a nos poderão revelar as peregrinas belezas das lendas crioulas, facilitando ao mesmo tempo aos estrangeiros a leitura do dialecto.
Para além dos aspetos gramaticais que constituem a parte mais significativa desta obra, encontramos ainda uma parte intitulada “Variedades” onde surgem alguns nomes próprios, provérbios, poesias, adivinhações, frases soltas e um glossário. (Brito, 1888: 335-404, in Morais-Barbosa, 1967). Por razões ainda não esclarecidas, como eventualmente a falta de divulgação deste trabalho, esta proposta não teve repercussões junto dos que usavam a escrita de base etimológica.
Já nos finais da última década do século XIX, o Cónego Manuel da Costa Teixeira fundou o Almanaque Luso-Africano, onde iniciou estudos sobre o folclore de Cabo Verde. Deixou textos escritos em português e em crioulo, sendo de salientar “Despedida de S. Nicolau” (escrito na variante de São Nicolau) dedicada ao Bispo de Cabo Verde, D. António Moutinho, a tradução do Canto V de Os Lusíadas, Estrofes 8 e 9, para a variante de Santo Antão (Pedro Cardoso, 1933:26-28) e há ainda notícia de que foi autor de uma Cartilha do Crioulo (Veiga, 1998:118), cuja data precisa se desconhece, mas que o escritor Manuel Lopes, nascido na primeira década do século XX, testemunhou ter estudado quando era criança sob a orientação do próprio Cónego Teixeira.
Já em pleno século XX, outras vozes reclamam o real valor da língua das Ilhas e a literatura vem trazer um novo alento a esta fase em que se defende a causa do crioulo. Como diz Manuel Ferreira (1985),
Se o crioulo existe, por alguma razão fundamental será – e essa razão fundamental, por sua própria natureza, encontra-se arreigada à alma do homem caboverdiano.
A valorização da língua é também a valorização do seu falante. Eugénio Tavares, no seu artigo intitulado “Língua de Pretos” publicada no jornal O Manduco, nº11, em Janeiro 1924,[4] critica as atitudes pouco abonatórias que tinham sido tomadas em relação ao crioulo dizendo
Desde que não seja possível negar que o cabo-verdiano pensa; e que dispõe de palavras para dizer o seu pensamento; e que usa de regras para arrumação dessas palavras; e que, finalmente, tais palavras e regras constituem o resultado de uma colaboração de elementos associados na colonização, – fica admitida a utilidade do estudo dessas palavras e regras, como elementos para o estudo da colonização. E, se não me ilude minha incompetência, esse estudo é que constitui a gramática.” (Tavares, 1924. In Monteiro, 1997:218).
Mais adiante reafirmando que o crioulo é uma transformação da língua portuguesa, Eugénio Tavares ironiza um pouco mais o seu discurso dizendo:
E a chamá-lo língua de pretos, melhor seria dizê-lo língua de brancos mal ensinada a pretos, – a pretos que criaram os filhos desses brancos, que os trouxeram ao colo, e que lhes acalentaram os sonos da infância com as tristíssimas melopeias da saudade dos lares distantes e do sofrimento da escravidão; e que tendo vivido e sofrido o contacto de inteiras gerações de brancos, lhes deixaram imorredoura herança, as reminiscências bárbaras que eivaram a própria língua dos senhores. (Tavares, 1924. In Monteiro, 1997:219).
Antes de concluir as suas ideias, refere-se ainda à distância a que a língua portuguesa se encontra das diversas variantes dialectais do crioulo caboverdiano, tomando como exemplo Santiago e Brava.
Conclui salientando que
o dialecto cabo-verdiano pode falar-se e grafar-se. Por muitos motivos, e, principalmente, porque constitui a documentação de uma transformação, digo, de uma das transformações mais felizes da língua portuguesa entre os povos coloniais. (Monteiro, 1997:219).
Para dar provas de que seria possível ‘grafar’ a língua caboverdiana Eugénio Tavares escreve o seu emblemático livro Mornas – Cantigas Crioulas que é publicado em 1932 e que abre portas à criatividade literária em crioulo, demonstrando toda a sua funcionalidade linguística e literária. Este exímio defensor da caboverdianidade, desempenhou um papel activo na afirmação político-cultural da especificidade de Cabo Verde, fazendo reivindicações de ordem política e administrativa, em que são de realçar a luta pela equiparação de estatuto entre os filhos da terra e os metropolitanos e a postulação de uma personalidade cultural genuinamente caboverdiana que passa pela reclamação de “a África para os africanos”- na verdade um dos primeiros apelos à Independência para Cabo Verde.
Pedro Cardoso, um crítico acérrimo à política cultural assimilacionista praticada durante a colonização e um forte defensor da língua e da cultura caboverdianas, é considerado um dos protagonistas na defesa do uso da língua crioula no sistema de ensino. No seu célebre discurso proferido no Teatro Virgínia Vitorino em 1933 (Veiga, 2002:19-20) aclamava a afirmação e o respeito pela língua materna, ousando levantar a voz, dar voz ao povo e elevar a cultura caboverdiana.
Na sua obra publicada em 1933, Folclore Caboverdeano, Pedro Cardoso apresenta algumas recolhas da tradição oral das ilhas, refere-se a algumas produções já existentes em crioulo (Cónego Teixeira, Eugénio Tavares), escreve ainda algumas considerações sobre o crioulo e dedica um capítulo às “Noções Elementares de Gramática – Fonética, Morfologia e Sintaxe”.
Ildo Maria Feijó escreveu Um Breve Ensaio Filológico sôbre o Creolo de Cabo Verde que é publicado em 1944. Neste estudo realça a importância e a riqueza do crioulo, estabelecendo comparações e dando ênfase ao facto de ser uma língua derivada do português. Refere que
O crioulo de Cabo Verde é um derivado da nossa língua, tão caprichoso quanto expressivo; não menos irregular que rico….
O autor opta por uma escrita etimológica e justificando que, depois de um estudo prévio, reconheceu que há muitas palavras crioulas que escritas “sonicamente” se torna difícil de encontrar a sua origem, mas que a escrita etimológica é de fácil leitura e compreensão. Exemplificando: ortografia sónica
“Cal de bocês , é que crê comprá cal?” Versão literal – “Qual de vocês é que quere comprar cal?” Ortografia etimológica – “Q’al de bocês, é que q’rê comprâ cal?”.
Argumenta ainda a favor da utilização desta ortografia dizendo que
(…) sôbre o assunto não conheço regra estabelecida sob um princípio básico, mas sobretudo porque não encontro razão aceitável e, muito menos convincente que me leve a escrever de outra forma (…)
recorre a exemplos da Ilha da Madeira, dos Açores e também das províncias do continente onde se pronuncia, por exemplo ai-agua, tchabe, non xe xabe, e se escreve água, chave e não se sabe. Depois de vários argumentos e exemplos pronuncia-se sobre o uso da escrita crioula dizendo que
muitíssimo raro é o caboverdeano que saiba escrever um simples bilhete em crioulo, isto é, na linguagem que primeiro balbuciou, quando é certo que em dialecto caboverdeano se pode falar e escrever sôbre literatura, história , geografia e, enfim, sobre qualquer ramo de ciência.
E para provar o que afirma, descreveu em crioulo o Corpo Humano:
Um home tem folgo, tem pele, carne, osso, nervo, veia, (…) stango.
Na segunda década do séc. XX, Napoleão Fernandes decide dar o seu contributo para a afirmação da língua das Ilhas e inicia um trabalho que demorou cerca de quarenta anos a ser compilado e que só veio a ser publicado postumamente no início da última década do séc. XX, em 1991, com o título Léxico do Dialecto Crioulo do Arquipélago de Cabo Verde. Apesar deste trabalho ter sido publicado ainda incompleto (uma vez que a morte em 1969 impediu o seu autor de o concluir), tornou-se uma obra de referência não só pela atitude cultural e política do autor, como também para outros estudos posteriores no campo lexical da língua caboverdiana.
Baltazar Lopes da Silva publica em 1957 um trabalho de cariz científico sobre a língua caboverdiana intitulado O Dialecto Crioulo de Cabo Verde que vem trazer um reconhecimento académico do valor da língua da ilhas descrevendo as suas regras e a sua gramática. No entanto, neste estudo há uma “colagem quase exclusiva à matriz portuguesa” (Veiga, 2002:23) que de alguma forma submete este valor da língua caboverdiana à língua portuguesa. Relativamente à ortografia, considera que
(…) o léxico do crioulo é quase totalmente recebido do português e igualmente de origem portuguesa é a estrutura do nosso crioulo, não valerá a pena elaborarmos um sistema ortográfico autónomo, bastando-se adaptar a ortografia portuguesa já que os nossos sons não diferem muito dos da língua portuguesa actual, se exceptuarmos alguns sons “ch” “j” e…mais alguns (…).
Maria Dulce de Oliveira Almada[5] publica também um estudo científico em 1961, intitulado Cabo Verde – Contribuição para o Estudo do Dialecto Falado no seu Arquipélago. Este trabalho vem reafirmar o valor da língua caboverdiana e da sua gramática, demonstrando as suas diferenças em relação à língua da metrópole, para que não se continue a pensar que o crioulo é apenas um português mal falado.
Dulce Almada desempenhou um papel ativo no processo de afirmação da língua caboverdiana, sobretudo após a Independência, defendendo o estatuto de Língua para o crioulo caboverdiano, sugerindo medidas de afirmação política e propondo metodologias de ensino da língua portuguesa como língua segunda e da língua caboverdiana como língua materna e salienta que:
Contrariamente ao que poderão pensar alguns, o facto de procurarmos estudar o crioulo e de querermos fazer dele a nossa língua não significa que queiramos rejeitar a língua portuguesa. (Duarte, 1978:79).
Luís Romano escreveu uma obra notável onde apresenta uma grande variedade de aspectos culturais caboverdianos, sobretudo da ilha de Santo Antão de onde é originário. Essa obra intitulada Cabo Verde – Renascença de uma Civilização no Atlântico Médio foi apresentada numa palestra proferida no Instituto Histórico e Geográfico de Rio Grande do Norte – Brasil, em Julho de 1966 e a segunda edição foi publicada em 1970, em Lisboa. O autor refere no capítulo XXII, na introdução ao Glossário, que iniciou a recolha do vocabulário em 1936 quando era aluno do Liceu Infante D. Henrique e começou a registar os termos mais “brabos” da sua região. Todas as recolhas feitas em crioulo são acompanhadas de uma “tradução em português aproximado”, mostrando a sua consciência clara de que nem tudo é traduzível.
Outras vozes mais recentes e de grande relevo na afirmação do universo linguístico do crioulo caboverdiano têm sido Manuel Veiga e Tomé Varela da Silva.
Manuel Veiga conta com um vasto leque de trabalhos publicados sobre a língua, sendo de salientar:
- Diskrison Strutural di Lingua Kabuverdianu (1982)
- Sementeira (1994)
- Introdução à Gramática do Crioulo (1995)
- Le Créole du Cap-Vert – Étude Grammaticale Descriptive et Contrastive (2000)
- O Caboverdiano em 45 Lições (2002)
- Dicionário Manuel Veiga.
- Dicionário Caboverdiano-Português, 2011
Entre outros, e ainda o primeiro romance integralmente escrito em crioulo caboverdiano intitulado Oĵu d’Águ (1987) (depois convertido às normas de escrita do ALUPEC, em segunda e terceira edições) e que marca uma etapa no processo de escrita do crioulo caboverdiano, demonstrando que esta língua serve para escrever qualquer tipo de texto.
Tomé Varela da Silva tem-se dedicado com afinco à defesa da língua crioula, escrevendo sobretudo na língua dos caboverdianos e criticando ferozmente aqueles que de alguma forma têm resistido, quer de forma clara, quer de forma subtil, à libertação e ao desenvolvimento pleno desta língua. Este autor dedica-se de uma maneira especial à recolha e publicação do património oral, possuindo diversas obras das quais salientamos os três títulos dedicados ao batuque:
- Finasons di Ňh[6] Násia Gomi (1985)
- Ňha Bibinha Kabral : bida y obra (1988)
- Nha Gida Mendi : simenti di onti na txon di manhan (1990)
Todas editadas originalmente segundo as normas do chamado Alfabeto do Mindelo; a compilação de estórias tradicionais:
- Na Boka Noti- Volumi I (1987)
- As adivinhas em Tenpu di Tenpu (1992);
- Os provérbios e adágios com Konparason di Konbérsu (1997)
E ainda diversos títulos dedicados à poesia. Tomé Varela da Silva tem um papel de destaque na divulgação e na prática do sistema escrito do crioulo caboverdiano.
Outro nome sonante é o de Eduardo Augusto Cardoso que deu o seu contributo neste processo de afirmação linguística, publicando um estudo que vem dar a conhecer melhor mais uma variante dialectal do crioulo caboverdiano com a sua obra O Crioulo de S. Nicolau de Cabo Verde (1989).
Encontramos ainda outros nomes que também contribuíram para a afirmação social e literária da língua caboverdiana, ainda que de forma mais discreta como é o caso de:
- Jorge Barbosa
- Sérgio Frusoni
- B. Léza
- Ovídio Martins
- Corsino Fortes,
- Kaoberdiano Bambará
- Luís Romano
- Manuel de Novas
- Artur Vieira
- Emanuel Tavares
- Oswaldo Osório
- José Luís Hopffer de Almada
- David Hopffer de Almada
- Inês Brito
- Alice Matos,
- Ano Nobo
- Kaká Barbosa
- Danny Spínola
- Eutrópio Lima da Cruz
- Humberto Lima
- entre outros.
Destaca-se também, Ariki Tuga (depois chamando-se Ariki Badiu Branku ou simplesmente Badiu Branku), um português que ao descobrir Cabo Verde e a sua língua aventurou-se na publicação de duas obras poéticas exclusivamente escritas em língua crioula.
Além-fronteiras, na diáspora, nos Estados Unidos da América, é de salientar Manuel da Luz Gonçalves que tem desenvolvido um trabalho de grande envergadura no Capeverdean Creole Institute, e na promoção do programa de ensino bilingue para os alunos de origem caboverdiana. Recentemente (2003) publicou um manual de aprendizagem do crioulo intitulado Pa Nu Papia Kriolu, em co-autoria com Lelia Andrade, e The Cape Verdean Creole-English Dictionary (Editora Mili Mila, 2015).Nos programas de ensino bilingue destacam-se para além dos nomes acima referidos, Georgette Gonçalves, Inês Brito e Marlyse Baptista, que desempenham um papel activo na ascensão do estatuto e na divulgação da língua caboverdiana.
Elsie Clews Parsons, uma norte-americana, interessou-se pela comunidade caboverdiana, tendo dado um contributo de peso com a sua recolha feita junto da comunidade residente nos Estados Unidos e oriunda do arquipélago de Cabo Verde. Estas recolhas de contos e adivinhas foram realizadas nos verões de 1916 e 1917. A tradução e a transcrição em crioulo estiveram a cargo de Gregório Teixeira da Silva, da Ilha do Fogo, um dos principais informantes, a quem a autora dedica a sua obra. Este trabalho resultou numa obra intitulada Folclore do Arquipélago de Cabo Verde, publicada em dois volumes, sendo o primeiro em inglês e o segundo em crioulo. A tradução desta obra para português só foi publicada em 1968, pela Agência Geral do Ultramar.
Todos os contributos referidos anteriormente contêm registos escritos na língua crioula. Cada um adoptou a forma de escrita que lhe parecia ser a mais conveniente, de acordo com a sua época e com os conhecimentos já adquiridos.
A escrita espontânea era sobretudo de base etimológica. Esta forma de escrita revelou-se pouco eficaz, pois não havia qualquer orientação sistemática de o fazer. Vejamos os exemplos referidos por Veiga (2002:44) quanto ao uso do modelo etimológico e à sua fragilidade
…escritores como Napoleão Fernandes a escrever umas vezes jh (jhbakós) e outras vezes gh (longhe). Pedro Cardoso escreve j (jugutâ), Sérgio Fruzoni escreve dj (fidje), Corsino Fortes escreve dg (fidge).
Para além desta infixidez, era também posta em causa a sua pouca economia estrutural, uma vez que há sons que são representados por várias letras e vice-versa. Para o som /z/, por exemplo, podemos encontrar o S (casa), o Z (doze) e o X (exame), enquanto que a letra X adquire sons diferentes nas palavras sintaxe, exército, fixo e bruxo.
Esta insegurança ortográfica é comum a todas as línguas quando estas se encontram num processo de estabilização da escrita. Este processo é longo na padronização de qualquer língua. Segundo refere Feytor-Pinto (2001:59-92) relativamente à língua portuguesa, apesar da preocupação em estabelecer uma ortografia ter surgido, sobretudo entre os séculos XII e XVI, só em 1911 é estabelecida a primeira norma ortográfica oficial da língua portuguesa, que viria a ter um uso generalizado até 1914.
No Colóquio de Mindelo, em 1979, foi proposto um alfabeto de base fonética e fonológica, que em parte, se regia pelas mesmas bases que a proposta de A. de Paula Brito, embora desconhecendo-a. Esta nova proposta foi inspirada na corrente linguística do “funcionalismo” de André Martinet e nas orientações da UNESCO para o uso do Alfabeto Fonético Internacional (IPA) e do Alfabeto do Instituto Africano Internacional (IAI) para a transcrição das línguas que até então não tinham uma forma escrita. Este alfabeto exibia vinte e seis letras que correspondiam a igual número de sons:
(Veiga, 1995:41)
Apesar de muitos terem aderido a esta proposta e ter sido utilizada na transcrição de várias obras de recolha de tradição oral e ainda por alguns escritores e activistas da língua caboverdiana, nomeadamente Tomé Varela da Silva, Manuel Veiga, Kaká Barboza, entre outros, apresentava alguma fragilidade sobretudo na representação gráfica que era de difícil leitura para quem não tivesse uma explicação mais detalhada sobre a correspondência fonética das consoantes que surgiam acompanhadas de acento circunflexo.
Aprovada por uns e reprovada por outros, esta proposta de escrita de 1979 e a forma de escrita espontânea, baseada no sistema de escrita português coexistiram durante uma década sem qualquer decisão oficial sobre o rumo da escrita do caboverdiano.
Em 1987, surge um projecto novo de alfabetização de adultos, no Ministério da Educação, motivado e apoiado pela Cooperação Suíça em Cabo Verde, que teve a duração de cinco anos. Tratava-se de um projecto de alfabetização em crioulo que seguia as directrizes da UNESCO (IV Conferência Internacional de Educação de Adultos, 1985) que consignam o direito de todos os indivíduos ao ensino em língua materna.
Por acordo dos consultores estrangeiros e dos nacionais que integravam a equipa[7], bem como do Ministro da Educação, o projecto passou a ter como objectivo a alfabetização não só em língua materna, mas também em língua portuguesa, tomando a designação de Projecto Experimental de Alfabetização Bilingue: numa primeira fase os alunos seriam alfabetizados em crioulo e, mais tarde, em português, enquanto língua segunda. Alfabetizar em crioulo obrigava à produção de materiais adequados que servissem de base à aprendizagem. Daí surgir a necessidade urgente de definir um sistema gráfico para a produção de textos.
Neste contexto, segundo afirma Dulce Pereira (2004),
Não havendo uma aceitação generalizada (nem social, nem mesmo política) da chamada proposta do Mindelo, foi a consultora de linguística do projecto de alfabetização bilingue[8] incentivada a fazer a sua própria proposta de grafia, num prazo útil para o desenvolvimento do projecto e sua aplicação no terreno que, numa primeira fase, seria na ilha de Santiago, prevendo-se que a experiência fosse, posteriormente, alargada a outras ilhas de Sotavento e de Barlavento. É assim que surge uma nova grafia para representar o crioulo de Santiago, variedade em que foram escritos os primeiros manuais.
Este alfabeto contém as seguintes letras: A B C D E F G H I J L M N O P K R S T U V Z. As letras C e H são empregues apenas nos dígrafos CH como em ‘decha’, NH como em ‘vinhu’ e LH como em ‘pilha’ e no trígrafo TCH como em ‘tcheu’. Contempla ainda o dígrafo DJ para o som /dj/ como em ‘odju’. (Fanha, 1989:42)
Esta nova grafia é apresentada em 1989, na cidade da Praia, juntamente com todas as actividades, documentos de descrição linguística e materiais elaborados, até então, no âmbito do projeto-piloto, num encontro a que se deu o nome de Fórum sobre Alfabetização Bilingue, que decorreu em junho de 1989. O texto contendo a Proposta de Grafia e os argumentos que a opõem à proposta do Mindelo é nesse mesmo ano publicado pela autora, de forma abreviada, na Revista Internacional de Língua Portuguesa[9] (Pereira, 2004a).
É na sequência da discussão do documento com os defensores da anterior grafia e com os participantes no Fórum que, por proposta do então Ministro da Educação, Corsino Tolentino, se forma uma Comissão Consultiva que tem como incumbência analisar a nova proposta e sobre ela redigir um parecer que, a ser favorável, alteraria, nos pontos relevantes, os anteriores hábitos de representação gráfica.
Essa Comissão[10] (liderada por Manuel Veiga, na parte respeitante aos estudos linguísticos) emite, em 24 de Agosto de 1989, um parecer que se mostra favorável, na sua globalidade, embora com algumas alterações, à proposta de grafia apresentada no Fórum sobre Alfabetização Bilingue.
Esta nova grafia não ganhou imediatamente estatuto oficial, embora tenha sido adoptada por praticantes da proposta de Mindelo como foi o caso de Tomé Varela da Silva.
Quatro anos mais tarde, em 1993, foi criado um Grupo para a Padronização do Alfabeto, presidido pelo linguista Manuel Veiga, que reunia diversas personalidades de renome das áreas do ensino, da literatura e da linguística caboverdiana, a saber:
- Alice Matos
- Dulce Duarte
- Eduardo Cardoso
- Inês Brito
- José Luís Hopffer Almada
- Tomé Varela da Silva
Cada elemento deste grupo deu um contributo particular de acordo com os seus estudos e a sua experiência para a criação do novo alfabeto. O livro, Proposta de Bases do Alfabeto Unificado para a Escrita do Cabo-Verdiano, publicado em 2006, compila os documentos produzidos por este grupo de trabalho donde são extraídos alguns apontamentos dos subsídios apresentados por cada um.
Dulce Duarte apresenta um subsídio sobre a História da Escrita em Cabo Verde onde descreve toda a caminhada percorrida pelo crioulo ao longo da História de Cabo Verde e realçando não só as épocas em que foi maltratado e ultrajado, mas sobretudo a sua ascensão gradual e valorização por todos os que se debruçaram sobre o seu estudo e desempenharam algum papel de relevo para elevar o estatuto da língua materna dos caboverdianos.
A autora refere-se à situação de diglossia vivida em Cabo Verde e à convivência pouco harmoniosa entre o português e o crioulo. O crioulo tem beneficiado desde sempre de um estatuto pouco dignificante que o manteve fora das situações formais de comunicação, nomeadamente da escola e consequentemente da escrita. Dá‑nos conta de vários nomes que ousaram fazer registos e produções escritas, assim como a forma como o fizeram. Enumera todos os passos dados até então, para a instrumentalização da língua (Duarte, 1994, in Grupo para Padronização do Alfabeto, 2006:49-99).
Para se escrever, torna-se imprescindível a utilização de algum tipo de alfabeto, e é disso que nos fala Tomé Varela da Silva no seu subsídio sobre As Funções e Disfunções do Alfabeto Etimológico onde apresenta uma análise aprofundada das propostas de escrita e dos alfabetos apresentados por A. Paula de Brito na sua obra Apontamentos para a Gramática do Crioulo que se Fala na Ilha de Santiago de Cabo Verde e por Pedro Cardoso na sua obra Folclore Caboverdeano, no capítulo onde expõe umas “Noções elementares de gramática”. Desta análise conclui que a influência do português foi determinante para a escrita em caboverdiano, pois os princípios etimológicos estiveram presentes tanto na proposta de Pedro Cardoso que adoptou o alfabeto português, como na proposta de A. Paula de Brito que propõe um alfabeto mais arrojado, inovador e funcional. Apesar dos benefícios evidentes desta proposta que se aproxima da escrita fonológica, ela não teve muitos praticantes, provavelmente pelo facto de se afastar dos hábitos de escrita em português, já instalados. Em jeito de recomendação Tomé Varela da Silva refere que
“A escrita fonológica (de que se aproxima claramente a proposta de A. Paula de Brito) parece ser a mais aconselhável pelas suas pertinência, economia, funcionalidade e sistemática, desde que se estabeleça um alfabeto linguisticamente adequado e socio-linguisticamente aceite pelos letrados e pela comunidade nacional, de que o Poder é parte integrante de relevante importância. (Varela da Silva, s/d, in Grupo para Padronização do Alfabeto. 2006: 99-130).
Ainda falando de alfabetos, Alice Matos contribui com um subsídio sobre “Os Alfabetos Fonológicos de 1979 e de 1989: Funções e Disfunções” onde apresenta um estudo aprofundado das duas propostas de escrita de base fonológica, a proposta de alfabeto apresentada no Colóquio de Mindelo em 1979, por Manuel Veiga e a proposta apresentada por Dulce Fanha, no Forum Internacional sobre Alfabetização Bilingue, em 1989.
O alfabeto proposto em 1979 surge como uma alternativa às propostas anteriores. Foi concebido para a escrita do crioulo, enquanto sistema linguístico autónomo em que cada letra corresponde a um som e vice-versa. As características deste alfabeto, como sua funcionalidade e a sua economia estrutural permitiram a sua aceitação por parte de um número considerável de escritores dedicados à causa do crioulo. No entanto, a fragilidade deste alfabeto residia sobretudo na representação gráfica de alguns sons, mais especificamente as palatais e os dígrafos que causavam alguma estranheza. Este alfabeto marca um ponto de viragem na história da língua caboverdiana pois, como refere a autora:
A partir dela, iniciaram-se outros modos de escrita do crioulo, o que conduziria, como veio a acontecer, a uma nova etapa de desenvolvimento da língua nacional (Matos, s/d in Grupo para Padronização do Alfabeto, 2006:131-144).
Dez anos mais tarde, em 1989, surge a proposta de Dulce Fanha que traz novos avanços, reafirmando o princípio fonético-fonológico do alfabeto de 1979. Relativamente à representação dos sons que diferem da proposta anterior, a sua autora opta por uma grafia mais próxima do português que lhe parece ser mais facilmente reconhecida e aceite. Apenas os grafemas ch e tch ficaram excluídos da aceitação geral deste alfabeto que
reflecte uma marcada preocupação sociolinguística (Matos, s/d, in Grupo para Padronização do Alfabeto, 2006:144-150).
Este grupo de trabalho propõe um novo alfabeto que ficou denominado como ALUPEC (Alfabeto Unificado para a Escrita do Caboverdiano), que tem a particularidade de combinar os vários modelos de alfabeto.
Manuel Veiga no seu subsídio intitulado Alfabeto Unificado – Funcionalidade descreve as características deste novo alfabeto, demonstrando a sua funcionalidade linguística, social, pragmática, interdialectal e intradialectal. Expõe as normas que regem o uso do ALUPEC e as suas implicações sociolinguísticas. Salvaguarda a sua capacidade de escrever qualquer variante regional do crioulo, realçando que
há toda a conveniência em haver um único alfabeto que sirva tanto para a escrita dos diversos dialectos como também para a escrita do crioulo estandardizado. O ALUPEC é concebido por forma a satisfazer as exigências tanto intradialectal como interdialectal. (Veiga,1994, in Grupo para Padronização do Alfabeto, 2006:151-176)
Eduardo Cardoso contribui com um subsídio também sobre o Alfabeto Unificado, cujo título é Alfabeto Unificado- Aceitabilidade e Implicações. O autor refere-se aos fatores linguísticos, sociais, culturais, políticos e económicos que deverão ser tidos em conta na implementação deste alfabeto para que tenha uma aceitação o mais generalizada possível e o seu uso seja acompanhado de políticas linguísticas adequadas e sustentadas, com instrumentos que permitam a sua divulgação.
O uso concertado do alfabeto implica um aumento de canais da sua utilização quer através de políticas de produção e divulgação de textos literários, quer pelo ensino de conteúdos relacionados com a ortografia do Crioulo, ações no sentido de adoptar uma variante padrão com vista à oficialização, formação inicial e contínua de professores, uso do crioulo na comunicação social, ensino da língua e culturas crioulas na escola, formação técnicos na área linguística e, ainda, a criação de uma comissão fiscalizadora da padronização. (Cardoso, s/d, in Grupo para Padronização do Alfabeto, 2006:177-186).
Outros dois contributos de grande relevância estão integrados neste livro que são os subsídios de José Luís Hopffer Almada e Inês Brito que focam a questão da importância da padronização.
José Luís Hopffer Almada debruça-se sobre A Importância da Padronização para a Língua e a Cultura Cabo-Verdianas, fazendo um exposição alargada sobre o papel desempenhado pelas duas línguas que fazem parte da cultura caboverdiana e o estatuto de cada uma delas, sem deixar de realçar as problemáticas do bilinguismo e da ausência de uma política ajustada em relação à língua caboverdiana.
Foca também as influências recíprocas sofridas entre o português e o crioulo e a o fenómeno da descrioulização. Enumera ainda as razões que tornam tão imprescindível o papel da padronização na preservação e no desenvolvimento da cultura caboverdiana, destacando as seguintes razões:
- A grafia padronizada ser indispensável para a livre emergência da literatura escrita , bem como para o uso do crioulo na comunicação social, sobretudo escrita
- Ser essencial para a introdução do crioulo no ensino e para a construção de materiais didácticos
- Ser uma forma de combate à descrioulização e de afirmação do crioulo em relação ao português
- Contribuir para uma maior fixação das diferentes variantes dialectais
- E ainda exercer um papel fulcral no surgimento de uma língua‑padrão, usando um alfabeto comum.
Relativamente a este último aspecto, José Luís Hopffer Almada salienta que
o Caboverdiano-padrão a surgir deverá poder incorporar as contribuições de todas as variantes regionais da língua cabo-verdiana, sem prejuízo da adopção de um dos dialectos como língua‑base. (Hopffer Almada, 1994, in Grupo para Padronização do Alfabeto, 2006:187-223).
Inês Brito aborda a Importância da Padronização para a Língua e o Ensino referindo-se aos benefícios que a padronização pode trazer quer ao nível da língua em si e ao nível do ensino. No que diz respeito à língua em si, considera que a escrita defende a língua, fixando-a, conservando-a e valorizando-a, uma vez que se trata de uma forma social e cultural prestigiada de comunicar. Faz referência ao percurso pouco prestigiado da língua caboverdiana ao lado da língua portuguesa que sempre teve um lugar de destaque e ao fenómeno de descrioulização que vem sendo uma ameaça crescente. Inês Brito constata que
Apesar da padronização do alfabeto não ser uma medida suficiente, ela é contudo a condição sine qua non para o avanço de uma escrita ( ..). A modalidade de comunicação por escrito é, com efeito, um outro espaço de realização da comunicação linguística. A conquista deste espaço proporciona à língua a oportunidade de sua realização na plenitude e aos seus utentes nativos a satisfação de ter um instrumento de expressão que lhe dá acesso a diversos domínios até então reservados ao português.
No que diz respeito ao ensino, trata-se de algo que ainda não pode ser considerada uma realidade em Cabo Verde, se se tiver em conta que apenas há notícia de experiências pontuais com destaque para o Programa de Alfabetização Bilingue de 1989, destinada a adultos e Projeto de Educação Bilingue que decorreu entre 2013 e 2019, destinado a alunos do Ensino Básico de algumas escolas da Ilha de Santiago e São Vicente.
Inês Brito faz referência a Pedro Cardoso que em 1933 defende publicamente a do ensino do crioulo e a Dulce Pereira que, apesar de não ser caboverdiana, tem tido um papel de relevo nesta matéria. Recorda os passos já dados, nomeadamente, a introdução da língua caboverdiana no plano curricular da Formação de Professores e critica o pouco que se tem feito desde a independência no sentido de introduzir o crioulo nos currículos escolares.
Aponta um conjunto de vantagens do ensino da língua materna e realça que são de caráter pedagógico, linguístico, sociolinguístico, cultural , etc.. e chama a atenção que para que tal aconteça é necessário tomar uma série de medidas que viabilizem o processo de ensino aprendizagem, sendo uma delas ,sem dúvida alguma , a adoção do alfabeto.(Brito, 1994: in Grupo para Padronização do Alfabeto, 2006:225-241).
O resultado do trabalho efectuado por este grupo é este alfabeto (ALUPEC), composto por vinte e três letras e quatro dígrafos:
A B D DJ E F G H I J K L M N NH N¨O P R S T TX U V X Z. Esta proposta foi aprovada pelo decreto-lei nº67/98, BO nº48, 5º Suplemento, por um período experimental de cinco anos.
(Veiga, 1995:42)
A “estandardização da escrita”, a que o preâmbulo se refere, exige a formalização de outros aspectos como a fixação da forma gráfica das palavras, tendo como modelo a variedade que for escolhida para padrão.
O ALUPEC foi amplamente utilizado e foi ele que norteou os trabalhos desenvolvidos nos programas de Educação Bilingue nos Estados Unidos, em Portugal e na Holanda e as publicações dos autores que escrevem na língua crioula, embora alguns tenham introduzido pequenas alterações, sobretudo no que diz respeito à acentuação, como é o caso de Tomé Varela da Silva e Danny Spínola. Houve até obras escritas com o Alfabeto de 1979 que foram reeditadas com o ALUPEC como é caso de “Na Bóka Noti I”, de T. V. da Silva (2005) e “Odju d’Agu”, de Manuel Veiga (2009).
Tendo chegado ao fim o período experimental, passados mais de cinco anos, não houve qualquer tomada de decisão em relação ao ALUPEC, mas é certo que a sua aprovação política, ainda que por um período experimental, trouxe um novo alento ao processo de desenvolvimento e valorização da língua caboverdiana, abrindo caminho para um projeto de oficialização.
A revisão constitucional de 1999 abre caminho à oficialização do crioulo com o artigo 9º, cujo título é “Línguas Oficiais”, que pressupõe a existência de mais do que uma língua oficial em Cabo Verde. Contudo o ponto 1 refere que “É língua oficial o Português”. O ponto 2 salienta a necessidade de percorrer um caminho indicando que “O Estado promove as condições para a oficialização da língua materna cabo-verdiana, em paridade com a língua portuguesa.” E o ponto 3 destaca que “Todos os cidadãos nacionais têm o dever de conhecer as línguas oficiais e o direito a usá-las”, no entanto, o dever de conhecer as línguas oficiais fica comprometido enquanto a língua de ensino for exclusivamente a língua portuguesa e não forem criadas condições para a implementação da língua caboverdiana nas escolas.
Passada uma década após a aprovação do ALUPEC, em dezembro de 2008, foi realizada uma Mesa Redonda para a Avaliação do ALUPEC, com o objetivo de avaliar a eficácia e a funcionalidade deste alfabeto, propor alterações, caso fosse necessário, e perspetivar caminhos futuros. Esta Mesa Redonda contou com a presença de diversos caboverdianos residentes e da diáspora que se têm afirmado como utilizadores ativos deste alfabeto. Foram convidados linguistas, escritores, professores, tradutores e curiosos.
As conclusões desta mesa redonda foram as seguintes:
- Que o ALUPEC é um instrumento útil e funcional para a escrita na língua cabo-verdiana
- Que se deve criar incentivos para a escrita do ALUPEC.
- Que se deve criar um Instituto Autónomo ou uma Academia para se ocupar da problemática da língua cabo-verdiana.
- Que a padronização da escrita deve ser um caminho sempre em aberto, onde se privilegia a ciência, o consenso e o bom-senso, sujeitos à avaliação e adaptação periódicas. Nesse sentido, deve-se continuar a aprofundar a questão da acentuação e do til, bem como a representação da constritiva velar nasal Ñ, do Y e do LH.
- Que o ALUPEC – pela funcionalidade e utilidade demonstradas; pelo interesse académico, social e cultural de que tem sido objecto; pela plasticidade na representação de todas as variantes da língua; por não ter tido a concorrência de nenhum outro modelo alfabético sistematizado e consistente – deve ser instituído, definitivamente, como Alfabeto Cabo-Verdiano.
(Decreto-Lei nº 8/2009, in Boletim Oficial nº11 (I série), de 16.03.2009, Praia.)
Desta Mesa Redonda surgiu a proposta que veio o ser oficializada em março de 2009, com ligeiras alterações. Este alfabeto oficial, designado como Alfabeto Caboverdiano é descendente direto do ALUPEC. É composto por vinte e quatro letras e quatro dígrafos.
A B D E F G H I J K L M N Ñ O P R S T U V X Y Z DJ LH NH TX
Segundo a proposta dos participantes da Mesa Redonda, o Alfabeto Cabo-verdiano deveria ter o mesmo número de letras que o ALUPEC, pois a letra “Y” (que representa a conjunção copulativa “e” do português) deveria ser substituída pela letra “I”, evitando a existência de duas letras para representar o mesmo som.
O Alfabeto Cabo-verdiano tem sido amplamente utilizado e a produção escrita em caboverdiano tem aumentado significativamente, no entanto muitas vezes a sua utilização é feita com pouco rigor, provavelmente por desconhecimento e até pela sua semelhança com o ALUPEC, pois a sua divulgação deveria ser massiva de forma a socializar todos os caboverdianos, mas infelizmente, continua circunscrita a um grupo restrito de utilizadores mais empenhados que zelam pelo respeito das suas regras.
Silva (2014) caracteriza o estado da escrita do caboverdiano como indisciplinado e preocupante. Pois, apesar de haver um alfabeto oficial, nem todos o respeitam, havendo um uso indiferenciado de vários alfabetos, com recurso ao alfabeto português regido por um princípio mais ou menos etimológico e até a mescla do alfabeto etimológico com o alfabeto fonológico. Segundo o autor
Káuberdi sa ta meste (di pontu di vista kultural, ntilektual, moral i mesmu spritual) un sistema di skrita ki tudu (o kuazi tudu) sidadon ta odja si kabésa nel, ta seta, ta ruspeta i ta difende, kuázi sima ta buskadu kumida pa bóka. Pa len di fator di raforsu di unidádi i kuezon nasional, el ta omenta otostima i orgidju ndividual i kuletivu. Silva, 2014:111) Cabo Verde precisa (do ponto de vista cultural, intelectual, moral e mesmo espiritual) de um sistema de escrita em que todos (ou quase todos) os cidadãos se revejam, aceitem, respeitem e defendam quase como se fosse pão para a boca. Para além do fator de reforçar a unidade e a coesão nacional, aumenta a autoestima e o orgulho individual e coletivo. (Tradução minha)
O crioulo e o português têm caminhado lado a lado, influenciando-se mutuamente. No entanto, o crioulo sofre uma maior contaminação se tivermos em conta o estatuto privilegiado do português, a massificação do ensino, a crescente migração dos meios rurais para os centros urbanos e ainda migração inter-ilhas.
Este processo vai se disseminando, quebrando as barreiras existentes entre as duas línguas de uma forma quase inconsciente, correndo-se o risco de se transformar, a longo prazo, numa mescla onde dificilmente se poderá estabelecer fronteiras entre o português e o crioulo, ou seja, saber onde começa e onde acaba cada uma das línguas. Este fenómeno de contaminação do crioulo pelo português é o que provoca a descrioulização. A situação poderá tornar-se perigosa se não forem tomadas medidas que a possam travar.
Se este fenómeno de descrioulização não for travado, daqui a alguns anos o crioulo poderá transformar-se num black portuguese, como refere Dulce Almada Duarte (data), ou numa língua de txapa-txapa (língua de remendos) como diz Tomé Varela da Silva (1998).
Esta é uma preocupação que tem vindo a ser manifestada pelos vários autores que apostaram e apostam na valorização do crioulo desde Baltasar Lopes da Silva, passando por Dulce Almada, Manuel Veiga, Tomé Varela da Silva, José Luís Hopffer Almada, Inês Brito, entre outros.
As interferências entre as línguas em contacto podem ocorrer nos dois sentidos e, por vezes, a língua materna sofre as influências da língua que apresenta maior prestígio, pelo facto de os seus falantes julgarem que se tornam melhores falantes, por exemplo do caboverdiano, se o aproximarem o mais possível do português, quer em termos de estrutura, quer em termos de vocabulário, motivados pelo prestigio de que esta língua beneficia. A propósito desta situação, Tomé Varela da Silva (1998:114) alerta, numa resposta dada a alguém que afirmou que a sua comunicação proferida em crioulo estaria cheia de erros, o seguinte:
É ka nha kumunikason ki sta xeiu di éru, mas sin nha kistionador, óras ki el ta kunfundi strutura di kauberdianu ku strutura di purtuges, régras di kauberdianu ku régras purtuges. É ki régras di konkordansa na kiriolu ta distansia di purtuges sima séu di tera, tantu na nunbru komu na jéneru. Não é a minha comunicação que está cheia de erros, mas sim o meu questionador, quando confunde a estrutura do caboverdiano com a estrutura do português, as regras do caboverdiano com as regras do português. É que as regras de concordância no crioulo distanciam-se do português como o céu da terra, tanto em número como em género.).
A proximidade entre as duas línguas facilita as interferências, que podem ser conscientes ou não. No uso do dia-a-dia, pode acontecer de forma inconsciente, mas nos escritos literários, acontecem de forma premeditada e propositada para dar um colorido e, até por vezes, para dar uma maior clareza aos textos escritos. A escrita em português de contextos caboverdianos leva por vezes os escritores e importar vocábulos e expressões do crioulo para o português.
O crioulo sempre pediu emprestado ao português novos termos que iam sendo necessários e que não existiam, o que é compreensível, mas tal como diz Baltasar Lopes da Silva
(…) uma coisa é o legítimo e útil recurso à língua portuguesa para preencher lacunas e apropriar formas ou recursos de expressões particularmente impressivos, e outra é transportar, como vem sendo uso, «em bruto» para o discurso crioulo fórmulas portuguesas, flexionais e outras, que não existem em nenhuma das nossas ilhas e não se compadecem com a natureza delas. São como pedaços de farrapos «chapados» na superfície do pano da nossa vestimenta idiomática.” (1985:38)
O crioulo é uma língua viva que se vai actualizando com novos termos e a sua riqueza vocabular também é realçada nas palavras de Baltasar Lopes, quando afirma que
O vocabulário básico do crioulo não é menos rico do que o falar básico de qualquer outro indivíduo da metrópole (…). Além disso, aparecem termos cultos na boca do povo (…). O vocabulário é talvez, pelo contrário a nossa maior riqueza. Para a linguagem coloquial, para a linguagem de todos os dias, o crioulo tem tudo. (1957:139)
Acrescenta ainda que
o crioulo (…) apresenta uma capacidade de enriquecimento em vários domínios, em todos os domínios em que uma língua se pode enriquecer (…)
José Luís Hopffer Almada, relativamente ao fenómeno de descrioulização faz referência aos seus efeitos considerando que
são imediatos quando as interferências linguísticas do Português sobre o Crioulo conduzem a fenómenos de descaracterização da língua na sua estrutura interna, quer seja do ponto de vista sintáctico, morfológico ou fonético. Como exemplo acabado de tal fenómeno pode ser apontada a glotofagia, a qual assume neste momento aspectos assustadores e ocorre em grande medida no chamado Crioulo urbano, mormente no cultivado maioritariamente pelas elites.
Considera como os efeitos mediatos da descrioulização os que ocorrem sobretudo ao nível do crioulo fundo e suburbano e que têm a sua base no crioulo cultivado pelas elites que é amplamente divulgado e disseminado pela comunicação social e por outros intervenientes socialmente prestigiados, enquanto portadores de um nível cultural e de escolarização mais elevado. Conclui que a descrioulização atravessa toda a sociedade caboverdiana e que para uma normal evolução do crioulo torna-se urgente adoptar “uma política linguística coerente que seja capaz de lhe assegurar a manutenção dos seus elementos internos fundamentais e de disciplinar o seu modo de relacionamento com o Português. (Hopffer Almada, 1994, in Grupo para Padronização do Alfabeto, 2006:202-207).
Um dos mecanismos considerado importante para fazer face à descrioulização é a fixação da língua crioula através da escrita. Baltasar Lopes considera que “quanto maior for o espólio escrito, maior é a possibilidade de regular a língua”. É necessário criar uma forma clara de regular a língua e dar a conhecer uma geografia linguística que estabeleça as fronteiras necessárias entre as línguas em questão.
Inês Brito salienta que a padronização da escrita pode ser um travão ao processo de descrioulização, pois a crescente valorização do crioulo e o alargamento da sua escrita podem proporcionar um desenvolvimento no sentido certo, tornando-o cada vez mais prestigiada em termos sociais, culturais e até políticos, conforme afirma
(…) tem que haver uma uniformização de critérios ao nível da escrita, pois a leitura poderá dar essa liberdade de cada um pronunciar à moda da sua ribeira (…)
valorizando-se assim as diferentes variedades dialectais.
A implementação do crioulo no ensino e o desenvolvimento da sua produção escrita poderão não apenas fazer face à descrioulização como até motivar um processo de recrioulização.
Por: Ana Josefa Cardoso
Nota:
Este texto é uma adaptação e atualização do texto publicado em 2008 com a seguinte referência:
CARDOSO, Ana Josefa (2008) “O Crioulo e a sua Escrita num Percurso de Afirmação” in, ALMADA, José Luís Hopffer C. (2008), O Ano Mágico de 2006 – olhares retrospectivos sobre a história e a cultura caboverdianas, Praia, Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, pp.839-860.
O PERCURSO DA ESCRITA DA LÍNGUA CABOVERDIANA
Bibliografia
- (1959) Colóquios Cabo-Verdianos, Lisboa, Junta de Investigação do Ultramar
- ALMADA, Maria Dulce de Oliveira (1961) Cabo Verde – Contribuição para o Estudo do Dialecto Falado no seu Arquipélago, Lisboa, Junta de Investigação do Ultramar.
- ASSEMBLEIA NACIONAL (2000) Constituição da República de Cabo Verde – Revisão de 1999, Praia, Assembleia Nacional.
- BARBOSA, Jorge Morais (org.) (1967) Estudos Linguísticos Crioulos, reedição de artigos publicados no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, Lisboa, Academia Internacional de Cultura Portuguesa.
- BARBOSA, Kaká (1984) Vinti Sintidu Letradu na Kriolu, Praia, Instituto Caboverdiano do Livro.
- BARBOSA, Kaká (1996) Son di Virason, Praia, Spleen.
- CARDOSO, Ana Josefa (2008) “O Crioulo e a sua Escrita num Percurso de Afirmação”in, ALMADA, José Luís Hopffer C. (2008), O Ano Mágico de 2006 – olhares retrospectivos sobre história e a cultura caboverdianas, Praia, Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, pp.839-860.
- CARDOSO, Eduardo Augusto (1989) O Crioulo da Ilha de S. Nicolau de Cabo Verde, Lisboa / Praia, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa/ Instituto Cabo-Verdiano do Livro.
- CARDOSO, Pedro (1933) Folclore Caboverdeano, Porto, Edições Maranus.
- CARREIRA, António (1982) O Crioulo de Cabo Verde – Surto e Expansão, Lisboa, Europam.
- DECRETO-lei nº 67/1998, in Boletim Oficial nº48 (I série), de 31.12.1998, Praia.
- DECRETO-lei nº 8/2009, in Boletim Oficial nº11 (I série), de 16.03.2009, Praia.
- DUARTE, Dulce Almada (1977) “Uma Nova Pedagogia do Ensino do Português em Cabo Verde”, Raízes nº2, Abril/Junho, ano1, 1977, Praia, Imprensa Nacional, pp.3-19.
- DUARTE, Dulce Almada (1978) “A problemática da utilização das línguas nacionais: Língua, Nação, Identidade Cultural”, Raízes nº5/6, ano2, 1978, Praia, Imprensa Nacional, pp. 35-80.
- DUARTE, Dulce Almada (1998) Bilinguismo ou Diglossia, Mindelo, Edições Spleen.
- FANHA, Dulce (1989) “Crioulo de Cabo Verde: Proposta de Grafia”, Revista Internacional de Língua Portuguesa, 2, Dez. de 1998, pp.41-48.
- FEIJÓ, Ildo Maria (1944) “Um Breve Ensaio Filológico sobre o Creolo de Cabo Verde”, Anuário da Escola Superior Colonial, 23ºe 24º anos-1942 e 1943, Lisboa, Sociedade Portuguesa de Geografia.
- GRUPO PARA A PADRONIZAÇÃO DO ALFABETO (2006) Proposta de Bases do alfabeto Unificado para ao Escrita do Cabo-verdiano, Praia, Instituto da Investigação e do Património Culturais. Textos de Dulce Duarte, Tomé Varela da Silva, Alice Matos, Eduardo Cardoso, José Luís Hopffer Almada e Inês Brito.
- LESSA, Almerindo e RUFFIÉ, Jacques (1957) Seroantropologia das Ilhas de Cabo Verde – Mesa Redonda sobre o Homem Cabo-Verdiano, Lisboa, Junta de investigação do Ultramar.
- PEREIRA, Dulce (2004) Pa nu Skrebe na skola, Projecto “Vamos conversar na escola- Nu ben papia na skola”, Escola Superior de Educação João de Deus, Lisboa.
- ROMANO, Luís (1970) Cabo Verde – Renascença de uma Civilização no Atlântico Médio, 2ª Edição, Lisboa, Edições da Revista Ocidente.
- SILVA, Baltazar Lopes (1984) O Dialecto Crioulo de Cabo Verde, Lisboa, Imprensa Nacional.
- SILVA, T. V. (1989) Tenpu di Tenpu-Tradições orais, Praia, Instituto Caboverdiano do Livro.
- SILVA, T.V. (1987) Na Bóka Noti, vul. I, Praia, Instituto Caboverdiano do Livro.
- SILVA, T.V. (1988) Natal y Kontus, Praia, Instituto Caboverdiano do Livro.
- SILVA, T.V. (1997) Konparason di Konbersu, Praia, Instituto Caboverdiano do Livro.
- SILVA, T.V. (1999) Forsa di Amor, Praia, Publicom.
- SILVA, T.V. (2000) Na Kaminhu, Praia, Edições do Autor.
- SILVA, T.V. (2005) Na Bóka Noti, Vul I, 2u idison, Praia, Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro.
- SILVA, T.V. (2014) Alfabétu Káuberdiánu – Un rupósta di skrita ku stória voltadu pa futuro, Praia, IPC.
- SILVA, Tomé Varela (1998) “Kiriolu: Spedju di nos alma”, Revista C(K)ultura, nº2, Praia, INIC, pp.109-121.
- VEIGA, Manuel (1982) Diskrison Strutural di Lingua Kabuverdianu, Praia, Institutu Kabuverdianu di Livru.
- VEIGA, Manuel (1987), Oĵu d’Águ, Praia, Instituto Caboverdiano do Livro.
- VEIGA, Manuel (1995), Introdução à Gramática do Crioulo, Mindelo, Instituto Caboverdiano do Livro.
- VEIGA, Manuel (2002) O Caboverdiano em 45 Lições, Praia, INIC.
- VEIGA, Manuel (2004), A Construção do Bilinguismo, Praia, Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro.
- VEIGA, Manuel (2009), Odju d’Agu,2u edison, Praia, Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro.
- VEIGA, Manuel (2011), Dicionário Caboverdiano-Português, Praia, Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro.
- VEIGA, Manuel (org./coord.) (2000), 1º Colóquio Linguístico sobre o Crioulo de Cabo Verde, s/l, Instituto Nacional de Investigação Cultural.
- [1] In BARBOSA, Jorge Morais (1967) Estudos Linguísticos Crioulos, reedição de artigos publicados no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, Lisboa, Academia Internacional de Cultura Portuguesa.
- [2] idem
- [3] idem
- [4] In MONTEIRO, Félix (org.) (1997) Eugénio Tavares – Pelos Jornais, Praia, Instituto Caboverdiano do Livro e do Disco.
- [5] Actualmente conhecida por Dulce Almada Duarte.
- [6] O acento circunflexo das palavras Ňa e maňan devem ser considerados na mesma posição do que o das palavras Oĵu e ĉon.
- [7] Marcela Ballara, Dulce Pereira, Manuela Menezes e Arminda Brito.
- [8] A autora do presente texto (Dulce Pereira; na altura, Dulce Fanha).
- [9] Fanha, Dulce. 1989.“Crioulo de Cabo Verde: Proposta de Grafia”. Revista Internacional de Língua Portuguesa, 2. Dez. de 1989: 41-48.
- [10] Constituída por Albino Tavares, Alice Matos, André Moura, Arminda Brito, Inês Brito, Manuel Veiga e Tomé Varela.