Terreru

O Projeto “Terreru Music” no Centenário de Amílcar Cabral

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Os poetas e filósofos pré-socráticos do século V a.C, na Grécia, buscavam a explicação racional do designado ARCHÊ (elemento ou o princípio que deveria estar presente em todas as coisas) para explicitar a origem do Universo, através do ciclo de mudança, do movimento, da harmonia dos contrários e da própria evolução do Homem como pessoa e categoria ética. Daí a importância da Pólis e a valorização da ÁGORA enquanto praça pública e lugar propício para debate de ideias e de opiniões.

Assim, e na senda do movimento criado pelos fundadores do projeto “Terreru Music” (Ângelo Barbosa “Djinho”, Calú de Guida, Djoy Amado, Jacinto Fernandes e Maruka Tavares) o mesmo é dizer que eles procuram explicar o fenómeno musical que dá um novo sentido racional e significado sociológico à expressão “Cabral ka Mori”!  A partir de uma metodologia colaborativa estes jovens exploram a matriz identitária da música tradicional caboverdiana, tendo como “pano de fundo” o rejuvenescimento estético de sonoridades como o batuco, o funaná e o finaçom, entre outras caraterísticas clássicas que tipificam a música de Cabo Verde.

O projeto “Terreru Music” tem como objetivo trazer para os palcos da “Aldeia Global” um novo olhar sobre a música caboverdiana e difundi-la a partir do legado histórico de Amílcar Cabral que é a figura incontornável no panorama político, cultural e histórico da humanidade. Aliás, a ideologia política e o pensamento de Amílcar Cabral podem ser temas de estudo em qualquer universidade da sociedade contemporânea. Este projeto faz referência a vários indicadores e preocupações em torno do ambiente, da sustentabilidade ecológica, da paz e da justiça social, da liberdade e da igualdade, da equidade e do papel da mulher, da liderança e do empoderamento que são temas de grande importância e relevo social.

Os proponentes acima referidos enfatizam estes temas num quadro de “Alerta” através de um manifesto sociocultural que traça uma narrativa atual sobre o pensamento de Amílcar Cabral marcado pela genealogia moral e política de libertação colonial da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. Neste amplo sentido histórico, Ângelo Barbosa diz tratar-se de um manifesto cultural e político numa altura em que o mundo vive dias difíceis e “momentos conturbados”. Djoy Amado reitera que é urgente combater os jogos do poder travados em vários palcos através de disputas irracionais imanentes nas variadíssimas estruturas políticas que acabam por dificultar a transformação social.

Tais “tendências” atrasam o próprio desenvolvimento social das comunidades, razão pela qual o trabalho e o compromisso engajados no projeto “Terreru Music” serem altamente didáticos e pedagógicos, eliminando ruídos e redundâncias em torno da fragmentação política. Segundo Jacinto Fernandes, neste processo de desenvolvimento do homem africano, o pensamento de Amílcar Cabral requer um olhar retrospetivo e histórico sobre a rota de escravos para que todos saibam de onde vieram e qual a origem da sua ancestralidade. Neste caso, é urgente emancipar pensamentos e ideias, dissipando o ressurgimento de um neocolonialismo imposto pela tecnologia e pela inteligência artificial.

Há que dar espaço ao diálogo sobre a preservação do planeta e sobre os valores humanistas enfatizados nos objetivos do referido projeto – “Terreru” – através de temas como “Alerta”, “Dilemas” e “Negro”. Os problemas existenciais, mesmo que sejam de forma intimista, devem ser abordados em qualquer circunstância da vida humana e da convivência do homem com o mundo atual globalizado.

Em suma!  A música tem um papel transformador e regenerador da cultura se se apostar num processo estético renovado e na sua estilização, para melhor divulgação e melhor consumo ecológico.